TrΩs sucessivas geraτ⌡es de escritoras romΓnticas inglesas regidas pelo sφmbolo do Tigre, que vai marcando (cada doze anos) as vidas criadoras de trΩs mulheres numa sociedade nova. Nela, a mulher passa a ser autora fecunda, constante, ao passo que noutras partes pr≤ximas do mesmo mundo ocidental, a mulher fica imobilizada no seu padrπo de anfitriπ de literatos e escritores, retomando o jß centenßrio papel do sΘculo XVIII -talvez como uma volta α seguranτa do passado-, ap≤s as convuls⌡es de revoluτ⌡es e restauraτ⌡es, sempre sangrentas.
As Ilhas BritΓnicas parecem ter-se salvo desse banho de sangue continental e as ondas de escritores se sucedem. No nosso caso, Θ Elizabeth Barrett o primeiro modelo de uma Tigre em aτπo. Embora nπo pareτa que poeta (o poetisa, como se recolhe nos dicionßrios) e Tigre tenham muito em comum, sim hß que ter a enorme forτa do tigre, a sua decisπo e a sua inteireza, para saltar da vida domΘstica que parecia reservada a estas trΩs mulheres e enfrentar o mundo da ediτπo, a ind·stria e os cφrculos literßrios, tπo cheios de rivais.
Elizabeth Barrett publicava com catorze anos o seu poema Θpico The battle of Marathon (A batalha de Maratona), o que Θ um dado impressionante, entπo e agora, pela magnitude do trabalho e pela idade da autora. Depois Elizabeth aprofundou no mundo clßssico e, fruto dessa dedicaτπo, apareceu em 1833 a sua traduτπo do Prometeu encadeado de Esquilo. O seu trabalho continua e um ano depois da sua morte, em 1862, viu a luz uma compilaτπo de trabalhos intitulada ┌ltimos poemas. Mas mais importante Θ a forτa do amor, nπo s≤ no romanticismo militante das suas obras, mas no seu casamento secreto com o grande poeta Robert Brwoning, seis anos mais novo do que ela, e na sua fuga (romΓntica) para a Itßlia, onde viveram atΘ a sua morte. Depois, Robert voltaria para Inglaterra, para Londres. Emily Brontδ nπo teve a energia nem a capacidade da sua irmπ mais velha, Charlotte, mas foi dona de uma sensibilidade superior, de uma capacidade mais penetrante para entrar no mistΘrio dos sentidos e das pessoas. A sua poesia foi a mais copiosa da publicada conjuntamente pelas trΩs irmπs naquela obra de 1846 assinada pelas irmπs Bell, e os seus poemas sπo, a julgar pela opiniπo dos especialistas, os melhores. Depois de terem passado quase inadvertidos, dois desses poemas, Old stoic e Last lines, se incorporaram ao acervo cultural inglΩs de forma definitiva.
Mas a obra mais importante e a mais conhecida foi Cimeiras borrascosas, uma tremenda hist≤ria de paix⌡es infelizes levada ao cinema com repetido interesse. O seu nome literßrio continuava a ser o de Ellis Bell e a obra foi eclipsada pelo sucesso de Jane Eyre, a novela de Charlotte. Assim houve que esperar que a passagem dos anos realτasse o valor inegßvel da grande novela de amor impossφvel entre as famφlias Earnshaw e Linton, uns Capuleto e Montesco que passam de Verona para Yorkshire.
Com uma vida tπo breve, que se extingue aos trinta anos, e numas condiτ⌡es muito especiais, sob a Θgide da sua irmπ Charlotte, a determinaτπo de Emily Θ excepcional e o seu valor evidente; sobretudo numa Θpoca em que a mulher tem quase que viver contra a corrente no meio da indiferenτa geral para outra coisa que nπo seja o convencionalismo e o interesse material. Mas, gloriosamente, o resplendor do romanticismo tinha iluminado oportunamente os cΘus da Inglaterra.
Por ·ltimo, a nossa terceira Tigre, ou a Tigre da terceira geraτπo do sΘculo XIX, Christina Georgina Rossetti, tem uma sorte diferente, dado que nasce abrigada pela fama de um pintor prΘ-rafealista, Dante Gabriel Rossetti e do escritor e jornalista William Michael. Os trΩs irmπos estavam unidos, por se embora pouco, pela idade, dado que estavam separados por um ano de idade, respectivamente, e a sua carreira vai tπo paralela como a sua infΓncia, marchando unidos e a toda a mßquina, como o caminho de ferro contemporΓneo que ia revolucionar o mundo.
Christina publicou poesias na revista familiar The germ, com vinte anos de idade; mas o seu trabalho mais importante comeτa a ver a luz quando jß fez os trinta, com obras poΘticas como O mercado do duende ou A viagem do prφncipe.
O mais importante, qualidade α parte, Θ que tambΘm Christina Rossetti estß trabalhando na poesia atΘ ao dia da sua morte. Precisamente no ano do seu falecimento se publicam os seus sonetos na obra Monna innominata, e aos seus sessenta e quatro anos continua estando cheia de vida e de alegria, com essa impressionante forτa interior que fica patente no seu amor aos meninos, aos quais tambΘm dedica parte da sua obra, em forma de contos, como Θ o caso de Sing-Song.
Na mitologia oriental, enquanto o Dragπo Θ o rei do cΘu, o Tigre Θ o soberano da Terra e os dois, juntamente, se ocupam do universo, sem rivalidades nem invejas. Os Tigres sπo senhores da Terra e estas trΩs poetas (ou poetisas, como prefiram) se tornam rainhas da Terra subtraindo ao cΘu o seu profundo sentido e a magia das suas evoluτ⌡es de luz e sombra, de cor, claridade e movimento. Transplantam para a linguagem terrena os ritmos e as harmonias das esferas celestiais, esse sonho tomista que nunca chega a tomar forma material.
TIGRES C╔LEBRES
Charles De Gaulle, Francisco Goya, Oscar Wilde, Eisenhower, Luφs XIV de Franτa, Tennessee Williams, Isabel II de Inglaterra, Nicola Paganini, Tintoretto, Boris Pasternak, Kandinsky, Ho Chi-ming, Elizabeth Barrett, Rafael Alberti, Camille Pissarro, Emily Brontδ.
